quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Tu sabes que eu não vou dormir

que me escondo e que ouso

não saber ser eu sem saber mentir


tu sabes que eu não sei sentir

que eu não trago nos meus olhos

a incerteza de me permitir


eu nasci de mim

e todas as doenças 

e todos silêncios 

são placenta

são dormência 

são amor

são fim. 








há dias, meu amor, que são nuvens de aço

a atravessar a verdade


eu a sentir que o meu lugar

é muito longe das tuas mãos 

que o meu coração dá onze horas

no teu relógio. 


são dias, meu amor, em que nenhuma tristeza nos salva


antes, os teus lábios eram flores

ainda ontem os teus lábios eram flores

e hoje recomeçamos

a estilhaçar o que nos sobrou para dar.



sábado, 22 de outubro de 2022

cicuta

afinal é assim que começam todos os desastres.

uma luz que se acende em toda a extensão do dorso

e as mãos infinitas na interrupção dos espaços 

sabes das saliências dos músculos, da obliquidade dos astros

e os teus olhos, francamente abertos 

e a tua pele, que me veste e sara

faz-me esquecer o meu nome e as minhas falhas. 





terça-feira, 15 de março de 2022

o silêncio é manso

e reviras os olhos ao quotidiano

a vida não tem qualquer musicalidade

entende

a vida não está escondida atrás da porta

não vai abraçar-te em êxtase quando chegas a casa


fuma um cigarro

lê as notícias da guerra, preenche o irs,

lê os poemas antigos

em voz alta, com vergonha


como são cíclicos os desejos...

tudo o que conheci está morto

e já não falamos na terceira pessoa


o algoritmo da felicidade

é afinal encontrar uma sombra



e desistir.






Tu sabes que eu não vou dormir que me escondo e que ouso não saber ser eu sem saber mentir tu sabes que eu não sei sentir que eu não trago n...