segunda-feira, 29 de julho de 2019

diz-me

o teu corpo é um pássaro pousado no meu joelho
o teu corpo é a interminável alegria de uma manhã que nos cega

chega, abre a porta, diz-me

o balançar das folhas, a brisa da segunda-feira de manhã
a incerteza do sol e o teu corpo como a eterna consequência
do amor

ou estende a mão

acende-me um cigarro, pousa a tua cabeça nas minhas coxas
e deixa-me ser mais um dia.



primeiro beijo

lembro-me desse dia como se fosse o único

o teu sorriso mais largo, o teu suspiro mais fundo
e as mãos junto ao peito para não deixar sair o coração


terça-feira, 9 de julho de 2019

que talvez seja já demasiado tarde para construir uma nova cidade
com olhos doces de homens que não foram à guerra
e as mãos largas das mães a segurar trovoadas de verão

talvez seja já demasiado tarde para se inventar tudo outra vez
uma linha que atravessa a boca, lábio a lábio e silaba a silaba
para que as palavras saiam devagar e sem mágoa

talvez tenha passado a hora de ver nascer uma ponte
entre a tua ausência e a minha vontade

já não nascem os rios, meu amor


terça-feira, 2 de julho de 2019

não foi no meu corpo que nasceu o teu sorriso

não foi no teu corpo que ensaiei a vida e me desfiz contra mil paredes brancas

que chorei estradas estreitas, becos e paralelos

que provei a nitidez dos frutos ou que previ o fim do mundo

não foi no meu corpo que cruzaste a obliquidade das feridas

ou mesmo que encontraste as arestas da vida

mas estás aqui
mas estou aqui

e aqui é o princípio de tudo.



não aprendi nenhuma palavra nova que não venha numa receita médica  não conheço nada que não se tome de oito em oito, de doze em doze horas ...